Deepfakes impulsionam nova onda de golpes digitais no Brasil

Riscos crescentes exigem regulamentação mais clara e maior conscientização da população

Deepfakes – O ambiente digital, que aproxima pessoas e acelera a comunicação, também abriu espaço para golpes em escala inédita. No Brasil, ataques cibernéticos combinando engenharia social, inteligência artificial e vazamento de dados pessoais vêm crescendo de forma alarmante, com destaque para os deepfakes — vídeos e áudios criados por IA capazes de reproduzir com precisão rostos e vozes reais.

A sofisticação dessas fraudes já resultou em prejuízos milionários. Em 2024, por exemplo, funcionários de uma multinacional foram enganados durante uma videoconferência em que todos os participantes eram avatares falsos. No Brasil, a frequência desse tipo de crime é ainda maior: crescimento de 822% em um ano, índice cinco vezes superior ao dos Estados Unidos.

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Além de empresas, figuras públicas têm sido alvos frequentes. Imagens manipuladas de jornalistas, apresentadores e políticos foram usadas em campanhas falsas de arrecadação, venda de produtos e divulgação de programas sociais fictícios, muitas vezes com veiculação em plataformas de grande alcance e até anúncios pagos.

Regulação ainda tem lacunas

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) tem buscado orientar a população e reforçar a proteção de dados pessoais. Em fevereiro de 2025, alertou sobre notícias falsas envolvendo supostas indenizações do Auxílio Brasil, negando qualquer vínculo oficial com esse tipo de iniciativa.

Apesar dos esforços, especialistas apontam que a legislação brasileira ainda carece de instrumentos claros para coibir abusos ligados ao uso indevido de imagem. Embora a Constituição e o Código Civil protejam a honra e a privacidade, a LGPD não trata de forma específica os casos de deepfake em anúncios falsos, deixando vítimas em situação de vulnerabilidade.

A decisão recente do Supremo Tribunal Federal trouxe um novo capítulo para o debate. Em junho de 2025, o STF considerou parcialmente inconstitucional o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que limitava a responsabilização das plataformas digitais apenas mediante ordem judicial. Com isso, entrou em vigor o modelo de “notice and take down”: conteúdos manifestamente ilícitos devem ser removidos sempre que houver notificação, mesmo sem decisão judicial.

Brasil é vice-líder mundial

Relatórios recentes confirmam a dimensão do desafio. O CIO Report 2025 apontou que 80% das empresas brasileiras sofreram pelo menos uma tentativa de ataque digital no último ano. Os tipos mais comuns foram malwares e ransomwares (40%), deepfakes maliciosos (37%) e vazamentos de dados (34%).

O Brasil ocupa a segunda posição mundial em volume de ataques, com média de 1.379 tentativas de golpe por minuto, segundo levantamento da Kaspersky. Já o custo médio de uma violação de dados chega a R$ 7,19 milhões, valor que pode ultrapassar R$ 11 milhões no setor de saúde.

Na ausência de soluções definitivas, especialistas reforçam que a educação digital é a arma mais eficaz contra os golpes. Iniciativas como o #OutubroCiberSeguro, promovido pela Anatel, têm ampliado ações de prevenção, com atividades em escolas públicas voltadas à proteção de crianças, adolescentes e suas famílias.

Boas práticas individuais também fazem diferença: usar senhas fortes e únicas, ativar autenticação em dois fatores, desconfiar de ofertas suspeitas e manter sistemas atualizados são passos essenciais para reduzir riscos.

Mais do que perdas financeiras, os golpes digitais colocam em xeque a confiança social. A manipulação de imagens e vozes por inteligência artificial representa uma ameaça sutil e sofisticada, que desafia governos, empresas e cidadãos a agir em conjunto para preservar o bem mais valioso da era digital: a identidade.

(Com informações de It Show)
(Foto: Reprodução/Freepik)

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