Home office – Empresas de peso como Microsoft, Paramount e NBCUniversal estão aumentando a pressão para que funcionários compareçam mais vezes aos escritórios. No entanto, a adesão segue baixa.
Apesar das medidas que restringem o home office e ampliam a exigência de presença nos escritórios, a frequência média pouco se alterou nos ambientes de trabalho norte-americanos. Líderes encontram resistência para fazer valer essas normas, e muitos deles, na prática, também não têm grande interesse em estar nos escritórios. Em meio a incertezas econômicas, parte da gestão já aceita o modelo híbrido como solução viável.
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“Há coisas muito mais urgentes com as quais as empresas precisam se preocupar”, afirmou Beth Steinberg, executiva de recursos humanos no setor de tecnologia. Questionada se há punições aos faltosos, completou: “Não ouvi falar de muitas consequências disso, especialmente se alguém tiver alto desempenho.”
Mais dias no escritório
O The New York Times passou a exigir quatro dias de trabalho presencial por semana até novembro, em vez de três. A Microsoft, por sua vez, planeja implantar três dias obrigatórios a partir de fevereiro, para colaboradores do noroeste do Pacífico. Algumas empresas, porém, adotam posturas mais duras.
Na Paramount, funcionários em Nova York e Los Angeles tiveram de optar até esta semana por trabalhar cinco dias presenciais a partir de janeiro ou aceitar desligamento. A NBCUniversal, que pedirá quatro dias no próximo ano, também ofereceu um pacote de saída voluntária para quem não aceitar a exigência.
“Aqueles que não puderem cumprir devem entrar em contato com o RH para obter informações sobre um pacote de assistência para desligamento voluntário”, informou a NBCUniversal.
Além dessas, Amazon, Dell e JPMorgan engrossam a lista das que reduziram o home office em 2024. Segundo o think tank Work Forward, as companhias aumentaram em 12% a demanda por presença física desde o início do ano.
“Os americanos ainda trabalham em casa cerca de um quarto do tempo, o que é muito parecido com o que aconteceu em 2023”, explicou Nicholas Bloom, economista de Stanford que participa de pesquisa mensal com 10 mil trabalhadores.
A falta de entusiasmo entre gestores também pesa. Muitos protegem talentos para evitar perdas, e quase metade dos líderes seniores afirmaram que aceitariam reduzir o salário para manter o home office, conforme levantamento da BambooHR com 1.500 assalariados, incluindo 500 profissionais de RH.
Muita gente, pouco espaço
O aumento da presença gera desafios de infraestrutura.
Na Amazon, o retorno de centenas de empregados em tempo integral resultou em falta de mesas, vagas de estacionamento e salas de reunião. A empresa precisou recuar em cidades como Houston e Nova York. Situação semelhante ocorreu na Dell.
Outros empregadores tentam adotar medidas menos drásticas. A fabricante de dispositivos Taser, a Axon, exigirá que novos contratados fiquem no escritório de terça a sexta, mas permitirá que funcionários antigos mantenham arranjos híbridos.
“Não acho justo dizer às pessoas que são contratadas: ‘Ei, você mora na Dakota do Norte e agora precisa se mudar para outro lugar com sua família para trabalhar em um escritório’”, afirmou Josh Isner, presidente da Axon. Com taxa de rotatividade de 12% ao ano, a empresa espera, aos poucos, levar todos ao presencial.
“É um jogo longo”, disse Isner. “Estamos tendo sucesso e não queremos perder bons funcionários.”
Pressão velada e desligamentos
A exigência do presencial leva parte dos trabalhadores a se demitir — o que, para alguns, pode ser a intenção. “Requisitos mais rigorosos às vezes precedem ou seguem anúncios de demissões, inclusive na Amazon, AT&T e Dell”, avaliou Brian Elliott, ex-executivo do Google e do Slack, que lidera o Work Forward.
O Federal Reserve também registrou em agosto que algumas companhias estão reduzindo equipes ao impor políticas de retorno.m“É uma maneira barata de demitir, não há como disfarçar”, disse Bloom, de Stanford. “O problema é que você não escolhe quem sai.”
Segundo ele, poucas empresas monitoram de perto os faltosos cruzando dados de Wi-Fi ou registros de entrada. Como é difícil distinguir quem está ausente por doença ou viagem, muitos RHs só investigam quando há falta em mais da metade dos dias exigidos.
Cenário desigual
O impacto do retorno varia conforme a região. Em Nova York, bancos como JPMorgan e Goldman Sachs aumentaram a pressão pelo presencial em tempo integral, e o tráfego do metrô atingiu os maiores níveis desde a pandemia, segundo o gabinete da governadora. O movimento de pedestres também superou, em julho, os patamares de 2019, conforme levantamento da Placer.ai.
Já em âmbito nacional, a ida aos escritórios em agosto ficou um terço abaixo dos índices de 2019.
Os dados do Work Forward indicam que, enquanto as grandes empresas recebem mais atenção ao aplicar medidas rígidas, a maioria das companhias menores mantém algum grau de trabalho remoto.
Pesquisas mostram que quanto maior a cobrança, menor a adesão: organizações que pedem apenas um dia no escritório registram quase 100% de cumprimento; já aquelas que exigem três ou mais dias ficam abaixo de 75% de conformidade — ainda assim um avanço em relação ao ano anterior, quando o índice era de dois terços.
(Com informações Invest News)
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