Empresas apostam em benefícios e abandonam 6×1 para atrair candidatos a vagas

Taxa de desemprego em nível mínimo pressiona varejo e serviços, que apostam em criatividade para preencher vagas

Apostam em benefícios – A taxa de desemprego de outubro ficou em 5,4%, o menor índice registrado no país, e empresários relatam dificuldades crescentes tanto para atrair novos funcionários quanto para manter os que já estão na equipe. Em muitos casos, robôs têm substituído até garçons.

O resultado é uma corrida por criatividade. No lugar da tradicional escala 6×1, algumas empresas passaram a oferecer duas folgas semanais. Além do registro em carteira, benefícios como cartão para academia e sorteios de viagens em família se tornaram chamarizes. Quando isso ainda não basta, carros de som percorrem bairros anunciando vagas para tentar fisgar candidatos.

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Essas são algumas das estratégias que dominam o mercado de contratações temporárias – e também a retenção de efetivos – neste fim de ano no comércio e nos serviços.

Com a taxa de desemprego no menor nível da série histórica, negócios desses setores vêm improvisando para ocupar as vagas sazonais típicas do período, consideradas porta de entrada para muitos jovens.

A expansão do consumo esperada para as festas de fim de ano não encontra equilíbrio na oferta de trabalhadores. A Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) prevê a abertura de 267 mil vagas entre outubro e dezembro. Só a Centauro, rede de material esportivo, abriu mil postos temporários no país.

A Amazon, por sua vez, anunciou a contratação de 13 mil temporários para atuar na Black Friday e no Natal. À medida que a demanda cresce entre o final de novembro e dezembro, a dificuldade de encontrar mão de obra se repete entre pequenos e grandes negócios – e alguns optam pela robotização.

Prêmios como estímulo

O Magazine Luiza tenta preencher 3 mil vagas temporárias, especialmente para movimentação de estoque e conferência nos centros de distribuição. Mas, segundo o diretor de Gestão de Pessoas, Wiliam Miguel dos Santos, a missão tem sido mais árdua que o esperado:

“O mercado está extremamente desafiador com o pleno emprego. Estamos trazendo bonificações adicionais e prêmios como viagens para a família para tentar atrair os temporários.”

No setor hoteleiro, que vive alta desde o pós-pandemia, reforçar equipes para o verão também não tem sido simples. A Blue Tree Hotels contratou 102 temporários para a alta temporada, que vai até o carnaval, somando-se aos 280 funcionários fixos admitidos ao longo do ano.

Para ocupar todas as vagas, a rede adotou uma mudança inédita: trocou a escala 6×1 pela 5×2, garantindo dois dias seguidos de descanso. Também ampliou benefícios, como acesso a academias e telemedicina.

Baixos salários dificultam retenção

A diretora de Operações da Blue Tree, Maria Rosa Leroy, afirma que as medidas respondem à demanda dos jovens que preenchem funções de recepção, camareira e mensageiro, e também ajudam a reduzir a rotatividade.

“Conseguimos minimizar um pouco essa dificuldade com essas iniciativas. Reduzir a escala foi nosso principal atrativo, porque melhora o equilíbrio do trabalho com a vida pessoal” diz.

No comércio e nos serviços, o principal obstáculo para contratar é elevar salários, limitados por juros altos e margens apertadas. Além disso, perspectivas de carreira curtas em setores de baixa remuneração tornam os cargos menos atrativos para jovens.

A taxa de desocupação entre julho e setembro foi de 5,6%, a menor desde 2012, início da Pnad Contínua. Entre jovens de 18 a 24 anos, o índice caiu para 12,3%, mínimo histórico, apesar de ainda ser o dobro da média geral.

O problema é que a renda permanece modesta. A média salarial subiu 4% em um ano e chegou a R$ 3.507, o maior valor já registrado. Já entre jovens, essa renda mal chega a R$ 2 mil em algumas regiões.

Rotatividade cresce em bares e restaurantes

O setor de alimentação sempre teve alta rotatividade, mas com o desemprego em baixa, o desafio se intensificou. Restaurantes relatam não apenas dificuldade em contratar, mas também em reter funcionários experientes.

Nos restaurantes da Bold Hospitality — dona das redes Outback, Abbraccio e Aussie — a oferta de mão de obra deixou de ser abundante no último ano, diz Tatiana Tafuri, vice-presidente de Pessoas e Cultura. A empresa decidiu abandonar as plataformas de seleção e buscar candidatos diretamente. Em São José dos Campos (SP), influenciadores locais divulgaram vagas.

Em Criciúma (SC) e Aparecida de Goiânia (GO), a alternativa foi alugar carros de som que circularam pela cidade anunciando oportunidades. Entre os incentivos, auxílio-academia e outros benefícios.

Em 2025, o grupo abriu 15 novas unidades do Outback, cada uma exigindo cerca de 80 trabalhadores. Para o atendimento, a empresa passou a contratar mais profissionais acima de 50 anos – público que cresceu 20% em quase um ano.

“Fizemos uma reformulação completa. Fomos a cada região para entender as necessidades locais e o melhor jeito de se comunicar com potenciais empregados ali”, diz a executiva. Ela relata ter ficado três semanas sem conseguir contratar uma única pessoa para uma unidade prestes a abrir.

Robôs como alternativa

Diante da dificuldade para encontrar garçons, o empresário Silas Lacerda, dono de 11 cafeterias na capital paulista, investiu em robôs de serviço. Nas unidades da Better Café, no Brás, o processo funciona assim: o cliente pede para um atendente humano e, momentos depois, um robô sobre rodas se aproxima com a bandeja. “Seu pedido chegou. Por favor, retire”. Depois disso, retorna sozinho à copa.

Equipado com mapeamento do ambiente, o robô sabe o trajeto para cada mesa e até o caminho de volta ao carregador ao final do expediente. No dia seguinte, anuncia automaticamente: “Estou iniciando meu turno”.

Para manter equipes, Lacerda criou um sistema de bônus e passou a cobrar taxa de serviço, o que quase dobrou os salários. Mesmo assim, atrair jovens para funções de contato direto continua difícil, afirma.

Também apostando na automação, Luís Ferreira, da padaria Villa Grano, já acumula três robôs — cada um adquirido por R$ 92 mil. Eles estão em operação há três meses, agilizando a entrega de pedidos e o recolhimento de louça.

Segundo ele, porém, os robôs só viraram solução depois de diversas tentativas frustradas de expandir a equipe. A padaria mantém cerca de 20 vagas abertas há dois anos. A permanência dos atendentes não costuma ultrapassar dois meses. Para tentar reduzir o problema, o negócio diminuiu o cardápio e passou a priorizar candidatos acima de 50 anos.

(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/Drazen Zigic)

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