Fabricante chinesa de chips tem estreia na bolsa com alta recorde

Moore Threads alcançou US$ 42 bilhões em valor de mercado, com fundador do DeepSeek entre os maiores compradores de ações

Chips – A busca da China por autossuficiência tecnológica ganhou um novo protagonista com a estreia da Moore Threads na bolsa de Xangai. A fabricante de chips teve uma abertura de capital histórica: suas ações dispararam mais de 500% no primeiro dia de negociação, consolidando a empresa como uma peça-chave na estratégia de Pequim para reduzir a dependência de semicondutores estrangeiros.

Mesmo incluída na lista negra dos Estados Unidos, a companhia emergiu como uma das maiores apostas do país para contornar restrições internacionais, movimento que também beneficiou diretamente o fundador da DeepSeek.

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O processo de IPO chamou atenção pela velocidade. A Comissão Reguladora de Valores da China aprovou a operação em apenas quatro meses, bem abaixo da média habitual de 470 dias, evidenciando a urgência do Estado em fortalecer o setor. De acordo com o site SCMP, Liang Wenfeng, por meio de seu fundo, adquiriu mais de 82 mil ações antes da estreia da empresa no mercado.

O resultado financeiro foi imediato. Em 48 horas, o fundo obteve um lucro de quase US$ 5,6 milhões. Segundo a Nikkei Asia, a Moore Threads atingiu uma capitalização de mercado de 305 bilhões de yuans, o equivalente a cerca de US$ 42 bilhões, tornando-se a quarta empresa mais valiosa do mercado STAR. O desempenho chama ainda mais atenção pelo fato de a companhia não ser lucrativa, meta que pretende alcançar apenas em 2027.

O entusiasmo do mercado não se explica apenas pelo crescimento acelerado, mas pelo posicionamento estratégico da empresa. Fundada em 2020 por Zhang Jianzhong, ex-gerente-geral da NVIDIA na China, a Moore Threads carrega um pedigree que a coloca como rival direta da gigante americana. Esse histórico foi determinante para que os Estados Unidos a classificassem como ameaça e a incluíssem em sua lista negra em 2023.

Suas GPUs, como a MTT S4000, são vistas como alternativas nacionais às H100 e H200 da NVIDIA, esta última, inclusive, com previsão de chegada direta ao mercado chinês. Nos centros de dados estatais, o governo já impõe a exigência de que pelo menos 50% dos chips utilizados sejam de fabricação local, ampliando o espaço para soluções domésticas.

O principal trunfo da Moore Threads, no entanto, vai além do hardware. A empresa desenvolveu o MUSA, uma plataforma que permite reutilizar códigos escritos originalmente para o CUDA, tecnologia central da NVIDIA, e executá-los em suas próprias GPUs. Ao reduzir drasticamente a barreira de migração, a startup enfraquece a dependência das empresas chinesas do ecossistema de software americano.

Esse avanço completa uma peça fundamental da aliança de empresas chinesas formada para enfrentar a liderança da NVIDIA. O investimento do criador da DeepSeek na Moore Threads, inclusive, não se limita ao aspecto financeiro. A empresa de IA tem colaborado diretamente com a fabricante de chips para otimizar seus modelos em hardware nacional e já havia sinalizado, em agosto, que poderia deixar de depender de chips da NVIDIA.

Com uma alternativa à NVIDIA que triplica seu valor em bolsa e uma inteligência artificial capaz de competir com Gemini e ChatGPT, a China avança na construção de um ecossistema fechado, no qual hardware e software evoluem de forma integrada. Trata-se de uma estratégia que não apenas fortalece a indústria local, mas também a protege contra eventuais sanções futuras impostas por Washington.

(Com informações de Xataka Brasil)
(Foto: Reprodução/Freepik/)

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