Vendas da Tesla na Califórnia podem ser suspensas por marketing enganoso

Órgão regulado do estado acolheu recomendação disciplinar contra a montadora de Elon Musk

Tesla – As vendas de veículos da Tesla na Califórnia podem ser suspensas por até 30 dias após o regulador estadual concluir que a montadora utilizou práticas de marketing capazes de induzir consumidores ao erro sobre as reais capacidades de condução automatizada de seus carros.

A decisão foi anunciada pelo Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia (DMV, na sigla em inglês), que informou que a medida só entrará em vigor dentro de 90 dias, período concedido para que a empresa recorra ou se adeque às exigências.

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O órgão regulador seguiu recomendações disciplinares feitas por um juiz administrativo, após acusar a Tesla de exagerar as capacidades de recursos comercializados como Autopilot e Full Self-Driving (Direção Totalmente Autônoma). Segundo o DMV, a forma como esses sistemas são apresentados pode levar motoristas a acreditar que os veículos são mais autônomos do que realmente são.

“Estamos basicamente pedindo que a Tesla faça o seu trabalho, como já fez em outros mercados, para rotular adequadamente esses veículos”, disse Steve Gordon, diretor do DMV da Califórnia, a jornalistas. Em comunicado, ele afirmou que a empresa pode tomar “medidas simples” para resolver a questão de forma permanente.

Uma eventual suspensão da licença de vendas representaria um duro golpe para a montadora sediada em Austin, no Texas. A Califórnia é o maior mercado automotivo dos Estados Unidos e lidera a adoção de veículos elétricos, o que torna até mesmo uma interrupção temporária potencialmente custosa. Nos primeiros nove meses deste ano, a Tesla registrou mais de 135 mil novos carros no estado, cerca de 11% do total de veículos entregues mundialmente no período.

A defesa da empresa tentou barrar a ação disciplinar argumentando que sua publicidade é protegida pela liberdade de expressão garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Os advogados também acusaram o regulador de tirar declarações de marketing do contexto e de ignorar os avisos e divulgações feitos pela Tesla sobre seus sistemas de assistência ao motorista.

“Esta foi uma ordem de ‘proteção ao consumidor’ sobre o uso do termo ‘Autopilot’ em um caso no qual nenhum único cliente se apresentou para dizer que há um problema. As vendas na Califórnia continuarão sem interrupções”, afirmou a Tesla em comunicado, sem fornecer mais detalhes.

Na decisão por escrito, a juíza administrativa também recomendou a suspensão da licença de fabricação da Tesla por 30 dias, mas o regulador optou por não adotar essa parte da recomendação. A fábrica da empresa na região da Baía de São Francisco tem capacidade para produzir mais de 650 mil veículos por ano, ficando atrás apenas da unidade de Xangai.

O mercado reagiu negativamente à notícia. As ações da Tesla chegaram a cair 2,2% no pregão pós-mercado de terça-feira. Nesta quarta-feira, os papéis recuaram 4,62% em Nova York.

Supervisão humana

A Tesla enfrenta há anos o escrutínio de promotores federais, reguladores do mercado de capitais e da Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário (NHTSA), além de ações judiciais movidas por consumidores e investidores. As investigações se concentram na forma como os recursos de assistência ao motorista são comercializados, utilizados e no modo como funcionam.

Tanto o Autopilot quanto o sistema Full Self-Driving exigem supervisão humana ativa e, portanto, não tornam os veículos autônomos. Em 2023, a empresa fez o recall de 2 milhões de carros depois que a NHTSA determinou que o Autopilot não fazia o suficiente para evitar o uso inadequado por parte dos motoristas.

A agência mantém uma investigação aberta sobre a eficácia da atualização de software implementada pela Tesla e também apura infrações de trânsito e múltiplos acidentes envolvendo o FSD, incluindo um caso com morte.

Em agosto, a empresa de Elon Musk sofreu sua primeira derrota significativa em tribunal relacionada ao Autopilot, quando um júri de Miami concluiu que o sistema foi parcialmente responsável por um acidente fatal e determinou o pagamento de US$ 243 milhões em indenizações.

Apesar disso, Musk continua promovendo os veículos da Tesla como os carros mais seguros já fabricados e tem apostado cada vez mais no desenvolvimento da condução autônoma. Nesta semana, ele confirmou que a empresa iniciou testes para que seus veículos circulem pelas ruas de Austin sem nenhum ocupante.

Impactos econômicos

A Tesla já havia alertado que qualquer decisão que limitasse sua capacidade de fabricar ou vender veículos teria consequências significativas para a economia da Califórnia. A empresa emprega mais de 33 mil pessoas em sua planta de produção e em suas 60 lojas e galerias no estado.

Para Haris Khurshid, diretor de investimentos da Karobaar Capital, a medida pode ter implicações em nível nacional para os esforços da Tesla de expandir seus negócios ligados à venda de tecnologia avançada em seus veículos.

Musk, a pessoa mais rica do mundo, mantém há anos uma relação tensa com a Califórnia. Antes de transferir a sede corporativa da Tesla para o Texas, em 2021, ele entrou em conflito com líderes democratas do estado por questões envolvendo governança, impostos e outras políticas públicas.

(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/inguskruklitis)

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