Autoridades americanas acusam hacker chineses de ofensiva global

Operação atingiu 80 países e expôs dados de praticamente todos os cidadãos americanos, afirmam autoridades dos EUA

Hacker chineses – Autoridades de segurança dos EUA afirmam que a China vem, há décadas, violando sistemas elétricos e corporativos americanos para obter informações sensíveis e propriedade intelectual – incluindo projetos de semicondutores – como forma de ganhar vantagem estratégica.

Mas especialistas concluíram que a ofensiva conduzida pelo grupo Salt Typhoon representa o maior ataque cibernético já registrado contra os Estados Unidos. Segundo a investigação, ele afetou mais de 80 países e pode ter comprometido os dados de praticamente todos os cidadãos americanos, demonstrando que a capacidade chinesa em operações de espionagem digital já rivaliza com a de Washington e seus aliados.

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Infiltração em empresas globais

O Salt Typhoon operou de forma articulada por vários anos, invadindo companhias de telecomunicações e outros setores-chave. O comunicado oficial da semana passada, assinado por diversos países, destacou que a dimensão do ataque foi muito superior ao estimado inicialmente.

Autoridades alertaram que as informações roubadas poderiam ser usadas pelos serviços de inteligência chineses para monitorar redes de comunicação mundiais, rastrear políticos, diplomatas, agentes secretos e ativistas.

Declaração conjunta como pressão política

A nota oficial destacou que hackers apoiados por Pequim têm como alvo setores que vão de telecomunicações a transporte, hospedagem, governos e infraestrutura militar. O Reino Unido e os Estados Unidos classificaram a ofensiva como “indiscriminada” e “sem limites”. Canadá, Japão, Alemanha, Espanha, Finlândia e Itália também assinaram o documento – uma iniciativa para expor publicamente e constranger o governo chinês.

“Não consigo imaginar que algum americano tenha sido poupado, dada a amplitude da campanha”, declarou Cynthia Kaiser, ex-dirigente da divisão cibernética do FBI.

Salto na capacidade digital da China

De acordo com especialistas, o ataque pode marcar um divisor de águas nas ambições digitais de Pequim. A demonstração de força ocorreu na mesma semana em que o governo chinês exibiu jatos, tanques e tropas em um desfile militar na Praça da Paz Celestial.

“De muitas maneiras, o Salt Typhoon marca um novo capítulo”, afirmou Jennifer Ewbank, ex-diretora-adjunta de inovação digital da CIA.

Ela lembrou que, no passado, a China se concentrava em roubar segredos comerciais ou informações governamentais por meios rudimentares. Hoje, diz Ewbank, observa-se “campanhas demoradas, apoiadas pelo Estado, profundamente enraizadas na infraestrutura de mais de 80 países, caracterizadas por alto nível de sofisticação técnica, paciência e persistência”.

Telefones de políticos na mira

A investigação apontou que pelo menos três empresas de tecnologia chinesas estiveram envolvidas na operação desde 2019, atuando para agências de inteligência militar e civil. Entre os alvos estavam linhas telefônicas utilizadas por políticos, incluindo o então presidente Donald Trump e o atual vice-presidente JD Vance durante a campanha eleitoral de 2024. O esquema também mirou membros do Partido Democrata.

Segundo as autoridades, os invasores conseguiram acessar dados de diversas empresas de telecomunicações americanas, explorando brechas antigas nas redes, além de companhias de hospedagem e transporte. Eles também teriam conseguido interceptar chamadas e mensagens de texto não criptografadas.

Contexto mais amplo

Para analistas, o ataque se apoia em anos de coleta sistemática de informações por parte de Pequim. “Se você é uma potência cibernética, faz sentido querer comprometer a rede global de comunicações”, avaliou Jamie MacColl, do Royal United Services Institute, no Reino Unido.

Pequim já havia sido acusada de ataques contra empresas como a Marriott, seguradoras de saúde e até o Escritório de Gestão de Pessoal dos EUA. Em 2021, o governo Biden responsabilizou a China por uma invasão em larga escala ao sistema de e-mails da Microsoft.

Embora hackers russos também tenham promovido ofensivas bem-sucedidas e os países ocidentais possuam ferramentas avançadas de espionagem, o episódio reforçou a percepção de que a China está buscando liderança global no ciberespaço.

Para Anne Neuberger, do governo Biden, o Salt Typhoon não foi apenas um êxito isolado de inteligência. “Ele refletiu uma realidade mais profunda e preocupante”, escreveu na revista Foreign Affairs. “A China está se posicionando para dominar o campo de batalha digital.”

(Com informações de O Globo)
(Foto: Reprodução/Freepik/DC Studio)

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